quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Neste carnaval ouvi de diversas pessoas comentários sobre a nostalgia e do romantismo presente nos carnavais de outrora. Aludiam às marchinhas, a tranquilidade de brincar nos bailes e nas ruas. Cantarolavam:

" As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar ,... eu passo a mão no saca, saca, saca rolha e bebo até me afogar... deixem as águas rolarem"

"Tanto riso, oh quanta alegriaMais de mil palhaços no salão[... ]Eu quero matar a saudadeVou beijar-te agoraNão me leve a malHoje é carnavalVou beijar-te agoraNão me leve a malHoje é carnaval"

"Oh! Jardineira por que estás tao tristeMas o que foi que te aconteceu?- Foi a Camélia que caiu do galhoDeu dois suspiros e depois morreu..- Foi a Camélia que caiu do galhoDeu dois suspiros e depois morreu.. - Vem jardineira, vem meu amorNão fiques triste que este mundo "é todo teu"Tu és muito mais bonita que a Camélia que morreu."

Algumas dimensões envolvidas naquelas afirmativas devem ser observadas: musicalidade, época histórica, conteúdo e forma da letra por exemplo.

Quando preparamos o espírito para um evento carnavalesco (ou canavalesco,como preferir!) a predisposição à alegria, descontração, irreverência e deboche se faz presente naturalmente. No entanto quando fazemos, mesmo que rapidamente, uma leitura das letras das músicas e até da sonoridade, dos rítmos e das sensações que estes nos remetem, notamos um abismo imenso entre o que foi produzido artisticamente, em um passado não tão distante, da verborragia que somos coagidos a escutar a todo instante nos meios de comunicação de massa.

Sinto que o batuque dos atabaques, o toque da cuíca, dos pandeiros, as baterias e o grito das guitarras excitam nossos sentidos e até trazem prazer com um suingado gostoso, o triângulo a zabumba, a sanfona, nos impele a sairmos da inércia. È muito bom.

Não falo disto. Mas sim, da falta de reflexão que muitas das vezes nos faz passar por fantoches, marionetes ou bobos da corte, lançados na euforia do balanço das músicas, permeados pelo relaxamento provocado pelo álccool e que... de repente nos faz estar no meio do salão, das ruas, seja lá de onde for, cantando, gritando e repetindo falas que não condizem com nossos pensamentos e princípios.

Temos avançado nas políticas de gênero no Brasil, a legislação traz prerrogativas a mãe no período do aleitamento, proteje a mulher com a Lei Maria da Penha da covardia de alguns homens. Não obstante, seja comum vermos crianças em festas infantis dançando "na boca da garrafa" ou fazendo passos que simulam o ato sexual. Que Paradoxo!

"Eu quero mais é beijar na bocaEu quero mais é beijar na boca (eu quero mais)Eu quero mais é beijar na bocaE ser feliz daqui pra frente... pra sempre"

Thomas Kunh, quando fala de ciência normal, nos diz que nunca ouve paradigma hegemônico, e que o modelo vigente se torna cada vez mais fraco a medida que os contestadores dele aumentam seu coro.

Prefiro não estar presente no cordão do paradigma de normalidade que toma conta de nossa sociedade em relação à banalização dos valores humanos.

"Já tomou meu homem destruiu meu larE agora só quer se fazer de santa (de santa)Pode ficar com ele deixa a minha vidaQue eu não vou dar ouvido a uma raparigaEu sei que ele pra mim vai voltar"

Se formos comparar os motes entre as canções acima e outras mais recentes, veremos semelhanças na temática e diferenças abissais na forma de tratá-las. Há falta de algo que se perdeu com o tempo "Se a polícia por isso me prenderMas na última hora me soltarEu passo a mão no saca-saca-saca rolhaNinguém me agarra, ninguém me agarra" e que está, de alguma forma atrelada à percepção que as pessoas passam a ter do mundo que as cercam.

Numa das canções os autores falam que querem beber até se afogar, há por mais deprimente que possa parecer nessa imagem, um trabalho de rebuscar a cena, há um burilamento na letra que permite aos que ouvem a sensação minimalista e eufemista dos efeitos deletérios da embriaguês, traz junto a si na letra,também, uma chamada à desobediência civil " Se a polícia por isso me prenderMas na última hora me soltarEu passo a mão no saca-saca-saca rolhaNinguém me agarra, ninguém me agarra".

Entretanto a forma grosseira como se trata a mesma temática numa música atual nos faz perceber a falta de polidez no trato da "obra de arte" " Cabra safadoTá na zueiraSó gosta mesmoÉ de mulher doideira". Nos parece que falta habilidadde aos "artistas" criações de melhor quilate ou pressupõem que o público não estaria preparado intelectualmente para compreender se assim o fizessem.

De qualquer forma a questão das diferenças qualitativas entre as produções de outrora e as de hoje, não estão tão ligadas a fenômenos naturais e deterministas da sociedade , mas sim pelo desconhecimento do belo, do bom e do bem pelo que passa nossa geração.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009


Maceió Outubro/96


Dantes finas gotas d’orvalho
Na vertigem da noite nua
Dias, noites, calor latente
Resguardam a feição triste
Entrevam a fala oblíqua
Amarga alma e presa sua.

Clara luz fogo e serpente
Prelúdio, alarde, saudade,
Rasgando o peito matando
Leve sem rumo poente
Amarga alma e presa sua.

Donde foram os anjos bons?
Clama, atreve, implora...é tarde.

Alma nobre, canto doce filha
Olha a vida, convida, não finja
Sem medo, receio, hoje viva!
Hoje tendo não sabes amanhã
Amarga alma e presa sua

Valquírias de sonhos alados
infantil alento me encanta
Preciosa e Nebulosa lágrima
Deste primo amor carente
Espera brilhar o espírito
Reflete a bela face escondida
Limite da razão que cegando
Esquece o peito doente
e ama amor.

domingo, 15 de fevereiro de 2009




Maceió Agosto/96

Nunca tive medo da morte , nem da morte súbita,trágica, pelo contrário encarava com naturalidade dos que ainda não experimentaram a sensação de perder um ente querido, mas hoje fazendo algumas contas, senti-me inseguro, incerto, impotente, acho que foi medo dela que apesar de certa ,presumia andar por muito longe.
As contas cabalísticas que me fizeram divagar começavam com a soma de décadas a partir do dia de hoje , conferindo em que ano cairia, até aí tudo bem... mas ao associar esses anos à idade dele me veio uma angustia no peito, porque não sou senhor das previsões e gostaria imensamente de vê-lo em todas suas vitórias, não somente na infância mas em toda sua trajetória aqui. No entanto sinto que será impossível. A cada dia que passa se torna mais vital e pulsante em minha vida , agradeço a Deus por ele e tentando fazer um malabarismo com o espírito entrego sua felicidade em Suas mãos. Fico ,às vezes, pensando o quanto é breve a vida por mais longevidade que o homem possa ter , cada momento é único e a impossibilidade de repetí-lo faz com que a sensação do ancião que gostaria de uma segunda chance, para reviver as boas lembranças, desfazer os enganos, desculpar-se com o passado, rever os que já partiram, impedir que o amor fuja de suas mãos, tentar aprender olhar o mundo como quem tem sede inesgotável do aprender fixando cada imagem e emoção na alma, seja a mesma que em qualquer época da vida a partir do instante que nos damos conta da efemeridade da vida , das incertezas do futuro e principalmente da certeza da grandiosidade e do prazer de viver . Te amo filho.

sábado, 14 de fevereiro de 2009


Abril/96

Que proveito se tira da dor que dobra a alma e faz do homem nada? Ou nada sendo somente sua imagem refletida o assusta . Assustado busca em vão justificar na dor o nada ser.
Se de proveito algo se tira , por que derramar sobre si mesmo todos pecados do mundo como se fosse possível no mundo caber tamanhas dores e pecados?
O tempo passa e quanto mais passa menos lógico fica de entender aqueles que querendo justificar a si mesmos retiram da vida o sentido ontológico das coisas serem. Como falar de amor verdadeiro, se por amor apenas, não se encontra verdade precisando redundar em amor verdadeiro. O amor ou é amor ou não o é. Não existe amor verdadeiro é amor e pronto e tudo mais que queira se aproximar disso é falso.
Fala-se tanto em solidão mas que tristeza maior de não saber o que é solidão por nunca ter deixado de estar só. Doce melancolia que persegue e extasia fazendo pensar e pensar até não poder mais imaginar viver sem ti.
Hoje alguma coisa me fez lembrar você e me descobri vazio. Com falta de algo na alma que me fizesse feliz e falando em felicidade entristeço mais ainda por lembrar que a conhecendo de perto e sem saber o que pra mim representava perdido-a.
O caráter de um homem que ao jurar amor não consegue ser fiel à amada não pode ser medido pelos mesquinhos olhos humanos que não entendem a dimensão da paixão... É impossível àquele que conheceu a paixão não tentar repetí-la e tentar quantas vezes nescessário for perpetuar essa sensação. Paixão que faz viver e alimenta o espírito , às vezes, de um néctar alucinógeno e enebriante que não separa a realidade da fantasia justificando a tudo pela própria razão de existir.
Pensamentos que dilaceram a alma , fragmentam as idéias e me deixam a deriva num labirinto de dúvidas. Entregar-se às vontades e deixar que os devaneios da paixão sejam senhores da razão para depois não lamentar ter passado pela vida sem viver? Sim é isso que se deveria crer se não fosse os senões que a vida nos prepara.
Se possível fosse assim viver sem magoar e ser magoado. Se realmente as idéias fluissem com a mesma intensidade que os sentimentos e fosse vero o equilíbrio do espírito com a devassidão do corpo.
Quando desce o sol e os demônios se fortalecem nas minhas fraquezas tento elevar o espírito à nobreza de pensamentos que travando desigual batalha dentro do meu peito angustia, culpa e relega a último plano as vontades contidas no vale sombrio dos meus desejos. Mas assim o valor do amor é justificado pelo sacrifício da paixão e se for nescessário... que assim seja.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Colação de Grau



Durante os últimos quatro anos tive a grata experiência de conviver com meus alunos de graduação durante uma parte do dia e de ser graduando na outra. Pude testemunhar as dificuldades, necessidades, expectativas e aspirações existentes nos dois lados da moeda do processo ensino-aprendizagem. Isso foi muito valioso. Municiou-me de habilidades que me ajudam na docência, colaboram com o processo de empatia tão importante para que a via de mão dupla na educação se realize em plenitude.


Hoje, quatro anos depois e com graduações, especializações, mestrado experimento as emoções de, efetivamente, acompanhar todo o processo que se inicia com o agrupamento de pessoas no primeiro período de um curso e desemboca na colação de grau com um sentimento de amizade construída e de saudade de momentos bem vividos.